Thor: Ragnarok (2017)

Thor: Ragnarok (Taika Waititi – 2017)

Da trindade da Marvel nos cinemas, formada por Homem de Ferro, Capitão América e Thor, o fechamento da trilogia do Deus do Trovão era o de futuro mais incerto dos três. A trilogia do Tony Stark mostrava a origem do herói e movia sua história para sua ascensão e queda no Universo Marvel (vide resenha do Homem-Aranha De Volta ao Lar) e Capitão América Soldado Invernal e Guerra Civil servia para colocar as peças do estúdio em movimento.

Porém Thor teve um elo fraco que foi seu segundo filme. Enquanto o primeiro trazia a gênese do herói e ditava vários pontos que serviram de impulso para o primeiro Vingadores, Thor: O Mundo Sombrio se perdia numa trama que só servia para apresentar a Joia da Realidade e não alterava em nada o status quo dos personagens (a não ser a morte da mãe de Thor que rapidamente é deixada de lado).

A Marvel chama o comediante Taika Waititi para assumir as rédeas do filme, após o êxito de James Gunn em Guardiões. De imediato, Waititi transfere a produção do filme para a Austrália, pois Waititi é Neo-Zelandês e Chris Hemsworth é australiano. A intenção de Waititi é realizar um filme mais caseiro, de ambiente familiar e sem a pressão dos executivos e da mídia. Sai o texto shakesperiano dos dois primeiros longas e agora Waititi aproveita a psicodelia que foi introduzida nos filmes de Gunn para fazer um Thor mais engraçado e com texto ágil, aproveitando a veia de comediante do ator protagonista.

A trama do filme é dividida em três enredos. O primeiro é a relação familiar. Taika rapidamente descarta algumas coisas estabelecidas no segundo filme, ao resolucionar rapidamente o mistério do desaparecimento de Odin e da falsa morte de Loki. Thor retorna a Asgard logo nos primeiros minutos, desmascara o irmão e juntos vão para a terra procurar o maior Deus Asgardiano. Com uma breve participação de Dr. Estranho que localiza Odin, os irmãos vão para a Noruega onde se despedem de seu pai que cumpre com sua vida na terra e logo em seguida, temos a invasão de Hela, magistralmente interpretada por Cate Blanchett. A vilã que está há milênios escondida por Odin, é irmã biológica de Thor e Loki e quer dominar Asgard. No transcorrer do longa, vemos que Loki continua seus impulsos pela trapaça, coisa que seu irmão já entendeu melhor que o próprio Loki que isso faz parte do “ser” dele querer trapacear. Então passamos a acompanhar como Loki começa a se entender e ver que sua ligação com seu irmão é transcendente.

O segundo plot é o planeta Sakaar. Thor após ser exilado nesse lugar, é capturado por Valkíria, uma guerreira de Asgard que se afasta de seu povo após a última batalha contra Hela. Nessa captura, Thor é levado até o Grão-Mestre, interpretado por Jeff Goldblum que é um dos pontos altos do filme. O texto de Taika Waititi casa perfeitamente com o jeito debochado e exótico de Goldblum. O personagem é uma espécie de rei de Sakaar e cria uma arena de batalha onde ganha dinheiro através de apostas. O grande trunfo dele foi há alguns anos ter conseguido o maior guerreiro que ele poderia ter: Hulk. A história do personagem é inspirada no arco “Planeta Hulk” dos quadrinhos e temos aqui uma versão do personagem que dominou a mente do Bruce Banner, até em um ponto, o cientista desperta e descobrir que passou dois anos na pele do gigante. Temos uma memorável luta de Thor e Hulk nas arenas e esse enredo acaba com a fuga de Thor, Hulk e Valkíria para Asgard. Em todas as cenas em Sakaar é onde Taika explora suas referências aos anos 80, ao utilizar uma estética oitentista e uma trilha sonora que abusa dos sintetizadores.

O terceiro plot é do próprio Thor, na melhor atuação de Chris Hensworth como o personagem, ele enfim encontra o tom que o personagem precisava e nesse viés da comédia, é onde ele acaba por colocar mais drama. A relação de Thor e Odin consegue aqui convencer e passa a ser mais palpável. Aqui temos a queda e ascensão do personagem, pois através de Odin, entendemos que não é o martelo Mjölnir (que foi destruído por Hela) que faz Thor poderoso, ele é o Deus do Trovão por causa de si mesmo e assim, assumindo como verdadeiro Rei de Asgard, o protagonista compreende que é somente causado o tão temido Ragnarok das profecias e destruindo Asgard é que ele pode derrotar Hela em definitivo. Assim acontece e levando os asgardianos numa nave, Thor compreende que não Asgard não é um local, é o povo. O fundamental da construção do personagem é o maior legado que o filme deixa para a Guerra Infinita.

Inicialmente critica, especialmente pelo excesso de comédia, Thor: Ragnarok é o melhor filme do Deus do Trovão e nos dá uma versão nova e definitiva do personagem que agora consegue competir de igual para igual com Tony Stark e Steve Rogers no posto de protagonista da Marvel. A música Immigrant Song do Led Zeppelin que fala justamente sobre a mitologia nórdica, casa com o personagem e o filme termina com o pontapé para o próximo Vingadores. Fica o gosto de quero mais.



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