Capitão América - Guerra Civil (2016)

Captain America Civil War (Anthony & Joe Russo - 2016)






















O arco Guerra Civil nos quadrinhos, marca os anos 2000 e é um retrato de nossa época. Conflitos envolvendo internet, reality show, vigilância em alta e dualidade de opiniões. Não há certo ou errado ou bem e mal, cada lado do conflito tem seus prós e contras. Os argumentos do Homem de Ferro e do Capitão América sobre o ato de registro da identidade dos heróis tem sentido para ambos os lados da moeda. Porém é exatamente o motivo da cisão que é o mais difícil de adaptar para o cinema. Numa franquia onde os heróis nunca esconderam sua identidade real, qual seria o real motivo da cisão?

Guerra Civil aproveita tudo o que aconteceu nos últimos filmes para criar uma história que reverbera e traz consequências de todas lutas anteriores dos Vingadores para proteger o planeta. Afinal, parafraseando os quadrinhos do Watchmen, quem vai vigiar os vigilantes?

Pensando em tudo isso, voltamos ao ano de 2014, a Warner/DC anuncia o filme Batman Vs Superman, abrindo as portas para seu universo compartilhado (mesmo já lançando Homem de Aço em 2013). Para rebater o anuncio, pois o filme pode ser o “vingadores” da DC, a Marvel Studios anuncia que vai lançar Capitão América 3 no mesmo dia. Porém no final daquele ano, a Marvel vem com a notícia que abala a concorrência, que o arco a ser adaptado é justamente essa que vos falei no início do texto: Guerra Civil. A Warner se vê obrigada a alterar a data de Batman Vs Superman e sente a pressão de criar um filme que seja maior que Guerra Civil. Com o jogo armado e bola em campo, os irmãos Russo realizam Guerra Civil que se torna o ponto de virada na trajetória da Marvel dos cinemas.

Voltando ao roteiro, a solução encontrada para adaptar o filme seria o pacto de Sokóvia. Um acordo onde os heróis responderiam ao governo americano por seus atos, após a destruição de Sokóvia em Era de Ultron e um ataque terrorista na Nigéria, causado pelo vilão Ossos Cruzados, que acaba matando um grupo de voluntários da nação de Wakanda que está no país para trabalhos voluntários.

O protagonismo corresponde ao título, é um filme sobre Capitão América e continuação direta de Soldado Invernal, Steve Rogers quer ajudar seu amigo Bucky Barnes, porém um homem chamado Zemo, que teve sua família morta em Sokovia, acessa aos arquivos da SHIELD que a Viúva Negra vazou no filme anterior, para construir seu plano: jogar os heróis um contra os outros. Em sua pesquisa, ele descobre que Bucky foi o responsável pela morte dos pais de Tony Stark, assim ele planeja desestabilizar cada vez mais o Soldado Invernal para poder realizar sua vingança. O principal pião à favor de Zemo é o Caos, afinal, o que pode derrotar um homem que já perdeu tudo o que tinha?

Justamente esse Caos provocado por Zemo, que está sempre em segundo plano e à frente dos Vingadores à cada passo, é o que causa todos os atritos no filme, num roteiro cheio de camadas e subtramas que não se perdem em nenhum momento na mão dos Irmaõs Russo. T’Chala, príncipe da Nação de Wakanda, perde seu pai num ataque terrorista provocado por Zemo e atribuído ao Soldado Invernal. Ele veste o manto de Pantera Negra e parte para se vingar do melhor amigo de Capitão.

É justamente na fuga para proteger o Soldado Invernal, que se da o conflito principal do filme. Capitão América quer proteger o melhor amigo do passado, mas não quer se voltar contra o Homem de Ferro, melhor amigo do mundo moderno. Porém ao ver que Tony mantém a Feiticeira Escarlate em cativeiro para assinar o acordo, Steve questiona tudo isso.

Enquanto temos os problemas do Capitão, Tony Stark colhe os frutos e traumas de Sokovia, especialmente ao ser confrontado por uma mãe (Alfre Woodard) que perdeu seu filho que fazia intercambio no país estrangeiro, uma das melhores cenas do filme. Querendo compensar tudo isso, mas não deixando de ter uma atitude irresponsável, Stark vai atrás de um adolescente para adotar como aprendiz e trazer para seu lado da luta: Peter Parker.

Nos bastidores do filme, a Sony após um escândalo de vazamento de informações, teve emails vazados de Amy Pascal, produtora dos filmes do Homem-Aranha na Sony. Um dos emails tratava exatamente da negociação dos direitos do Homem-Aranha para a Marvel Studios. A repercussão positiva para esse acordo foi tão grande, enquanto que o planejamento para os próximos filmes do Aranha teve reação igualmente negativa, que a Sony acaba fazendo esse acordo, à tempo dos Irmãos Russo incluir o herói em seu filme.

Parece que tudo conspirou a favor do filme. Como Amy Pascal não fechou acordo durante a fase de roteiro do filme, os Russo passaram o arco dramático do Aranha para o Pantera Negra, resultando numa gênese muito melhor para esse herói que acabou roubando a cena no filme. Porém, eles conseguem inserir então o Homem-Aranha que enfim representa tudo o que ele é nos quadrinhos, um adolescente nerd que aos poucos descobre o tamanho de sua responsabilidade no mundo. Para coroar tudo, a escolha de Tom Holland para o papel, trazendo o melhor Peter Parker/Aranha dos cinemas. A vantagem: Tom é bailarino desde criança, portanto, todas as acrobacias foram realizadas pelo próprio ator, servindo de referencia até para a equipe de efeitos especiais. A sorte: Holland só foi escolhido no fim do processo de escalação do elenco por um detalhe, ele é menor que Robert Downey Jr e isso acaba tendo um efeito bom em tela.

Ao fim, essa salada que poderia ser um desastre sem precedentes na Marvel, acaba se tornando sucesso... espere, parece que estamos falando de Os Vingadores. O que era antes aposta, agora é a fórmula Marvel, que somente trabalhou o refino de sua joia durante esses anos e entrega um filme ótimo, com um equilíbrio dos personagens e apesar de ter um vilão que novamente não seja marcante, é justamente o vilão que move todas as peças que movimentam todo o filme e provoca a cisão nos Vingadores. Tudo preparado, começou a fase três que encaminha tudo para a Guerra Infinita.

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