Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)

Spider-Man Homecoming (Jon Watts - 2017)

De Volta ao Lar, no original, Homecoming. Existe tanta referência nesse subtítulo. Homecoming é o título de uma história clássica do Aranha nos quadrinhos, da edição 252 de Amazing Spider-Man, onde Peter retorna das Guerras Secretas com seu clássico uniforme negro. Homecoming é também na cultura americana a festa de boas-vindas no início do ano letivo do ensino médio. Mas por ultimo, Homecoming é a volta ao lar do Homem-Aranha para a Marvel Studios. Após o acordo da Sony com a Disney, Kevin Feige e sua equipe de criação iriam cuidar da parte criativa e artística do filme, enquanto Sony ficaria com a distribuição e parte dos direitos da produção.

Assim começou a jornada do novo Homem-Aranha nas telas. Como o herói tinha sido um ícone para os anos 2000 com a trilogia criada por Sam Raimi e teve uma vida curta com os filmes medíocres de Mark Webb (às vezes chamados de filmes de Andrew Garfield, pois a figura do ator se sobrepunha a do diretor), o desafio da Marvel era entregar um filme que não cansasse os fãs e o grande público, pois seria a terceira versão do herói em um intervalo de oito anos.

O diretor escolhido foi Jon Watts, que apesar de não ter uma filmografia extensa ou sucessos em seu currículo, ele é o escolhido pelos produtores para fazer um filme mais jovial para o herói. Optando por não fazerem mais um filme de origem, o Aranha começa a tomar forma. Jon Watts parte da ideia que Peter já tem seus poderes e o filme se passa após Guerra Civil, ele está no início do ensino médio e para isso, o diretor se inspira nos filmes do diretor Jon Hughes (Curtindo a Vida Adoidado, Clube dos Cinco, Gatinhas e Gatões, Garota Rosa-Shocking) e na trilogia De Volta para o Futuro. O high-school retratado é fiel à realidade e não uma aglomeração de estereótipos e cores como as séries high-school da Disney e Nickelodeon (Hannah Montana, iCarly, Feiticeiros de Waverly Place, High School Musical, etc.).

Esse Peter Parker é o mais fiel que temos até hoje, pois ele equilibra as responsabilidades e crises do Parker de Tobey Maguire e consegue ser um moleque no ensino médio, diferente do exagero estereotipado do Parker de Andrew Garfield. Tom Holland cria um protagonista que continua sendo nerd, fã de filmes, star wars e ciências, porém ele não é o nerd caricato retratado tantas vezes nesses filmes ou o loser que está em alta nas produções jovens mais recente. Ele simplesmente é mais um membro diferente da tribo, pois Peter tem seus amigos (pois apesar de Flash Thompson zoar ele, não vemos simplesmente um bully e sim um cara mala, mas que não consegue ficar longe de Peter e desse grupo), suas crush (Liz Allan, alusão à Gwen Stacey e Michelle Jones, alusão à Mary Jane) e seu Best friend (Ned Leeds, inspirado em Ganke Lee, melhor amigo do Miles Morales, protagonista de Homem-Aranha Ultimate nos quadrinhos).

Ter rejuvenescido a Tia May, agora interpretada por Marisa Tomei, faz com que a relação de Peter e May (como ele carinhosamente a chama, ao invés de chama-la de tia) seja mais próxima, como duas pessoas que com certeza tiveram suas perdas (apesar do filme não deixar explícito quais foram) e estão reiniciando suas vidas.

Para dar vida ao vilão, após semanas de especulação, foi anunciado Michael Keaton que teve sua carreira perante o grande público retomado graças ao vencedor do Oscar “Birdman”, no qual ele faz um ator que foi estigmatizado por sua atuação de um herói e agora deve ser provar em sua carreira. Ironicamente, o mesmo acontece com o Keaton, pois ele foi o Batman nos filmes de Tim Burton nos anos 90, personagem que alavancou sua carreira da comédia para o drama. Keaton assume seu terceiro personagem com asas do mundo dos super-heróis. Após Batman e Birdman, ele interpretaria o Abutre, um dos maiores vilões do cabeça-de-teia nas hq’s. A ideia genial foi alterar a origem do vilão, ao invés de criar um idoso que é um ladrão, o Abutre aqui é um sucateiro que investe na limpeza de Nova York após a grande batalha contra os Chitauri no filme dos Vingadores, mas como o Governo impede que a empresa dele continue com a limpeza, Adrian Toomes (verdadeira identidade do Abutre) acaba por montar um ferro velho clandestino dessas peças remanescentes das grandes batalhas dos heróis e com isso ele começa a fabricar e vender armas com essas tecnologias.

Uma adição ao filme, estipulado no acordo entre Sony e Marvel, é a participação de Robert Donney Jr, novamente como Homem de Ferro, agora um mentor de Parker. Acabamos vendo aqui uma relação de figura paterna e a continuação de temas abordados em Guerra Civil, a maior preocupação de Robert é acabar tendo em suas mãos a responsabilidade se alguma coisa acontecer com Peter Parker, assim como ele foi acusado da morte de um jovem na batalha de Sokóvia. Interessante observar a evolução da Marvel em cuidar de seu Universo Cinematográfico, eles estão trabalhando com seus personagens e continuidade através de temas que são desenvolvidos em cada filme, ao invés de partir para o óbvio e trabalhar com cenas ou elementos que forcem o filme a se conectar um ao outro. É muito coeso ver que Homem de Ferro tem um trauma no primeiro Vingadores, passa por um surto de estresse-pós-traumático em Homem de Ferro 3, constrói Ultron para proteger o planeta caso se repita algo como no primeiro filme, mas vê sua criação acabar destruindo uma cidade inteira em Era de Ultron, colher os frutos da responsabilidade por tudo isso em Guerra Civil e agora se ver responsável por Peter Parker em De Volta ao Lar. O ápice dessa narrativa ocorre em Guerra Infinita (explorarei melhor isso na nossa última resenha da Maratona Marvel), e Robert Downey Jr junto do produtor Kevin Feige sabe onde o grande protagonista da Marvel Studios está indo e como o Homem-Aranha é essencial para tudo isso.

De Volta ao Lar é o melhor filme do herói desde o desgosto de Homem-Aranha 3 (que foi muito alterado para atender escolhas do produtor Avi Arad e da Sony) e revitaliza o maior protagonista da Editora Marvel. O maior mérito é de Tom Holland que conseguiu superar todas as expectativas e  mostra mais um acerto da Marvel Studios em escolher seus atores.



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