Homem de Ferro (2008)

Iron Man (Jon Favreau – 2008)

Assistir aos filmes recentes da Marvel Studios e ver Robert Downey Jr. tão à vontade com seu personagem, pode até atribuir isso à sua experiência nesses dez anos de franquia. Porém essa relação entre ator e personagem é estabelecido desde o primeiro filme, quando Jon Favreau bate o pé perante o estúdio para contratar Robert. Os dois mal sabiam que essa escolha seria essencial para criar todo esse universo do qual bilhões de dólares são faturados anualmente em bilheteria. Tudo isso começou com esse filme: Homem de Ferro.

Os filmes de Super-herói ainda buscavam seu tom na segunda metade da década de 2000. Após a greve de roteiristas de Hollywood de 2007/2008, o trunfo da Marvel Studios no meio dessa crise foi ter uma equipe de roteiristas da própria casa sendo consultor dos filmes. Eram os quadrinistas fazendo filmes de quadrinhos. Christopher Nolan com seu Batman Begins (2005), traz para o cenário da época a oportunidade de filmes de super-heróis mais autorais, porém honrando seu material de origem. Então para seu primeiro filme, a Marvel Studios aposta em Jon Favreau, um ator nerd que havia trabalhado com Avi Arad, produtor dos filmes da Marvel em outros estúdios.

Jon Favreau vira o jogo para seu lado e aposta as fichas em Robert Downey Jr, para ele a experiência que o ator teve com bebidas e drogas, reabilitação, escândalos públicos e volta por cima assemelhava-se muito com a trajetória de Tony Stark nos quadrinhos. O diretor logo começa a pincelar traços de sua personalidade para compor o filme. Cenas improvisadas com diálogos rápidos e sarcásticos. Trilha sonora de Rock com direito a AC/DC e Black Sabbath.

Kevin Feige, executivo júnior do estúdio, nas reuniões com Jon Favreau, vê a possibilidade de criar um universo de filmes compartilhados, já que o timão desse navio de super-heróis agora estava na mão do próprio estúdio. Avi Arad não concorda e se afasta da Marvel Studios, deixando a presidência para Feige. Como uma criança com vários brinquedos novos, o então novo presidente corre para unir as pontas soltas das produções e preparar o terreno para um futuro filme dos Vingadores.

A triada formada por Robert Downey Jr., Jon Favreau e Kevin Feige traz uma das adaptações mais fieis dos quadrinhos e ofuscada aquele ano por Batman – O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan – 2008). A DC trazia a obra-prima dos filmes de super-heróis enquanto acontecia a gênese do Marvel Studios. Hoje, dez anos depois, é muito irônico rever o passado.

Um playboy, gênio e filantropo do século XXI
A trajetória de Tony Stark (Robert Downey Jr.) começa com uma apresentação da mais nova arma de sua empresa, o míssil Jericho, uma clara alusão à história bíblica da cidade de Jericó e a queda de suas muralhas. Após a apresentação da arma para tropas do Afeganistão, eles são atacados e Stark é capturado por um grupo terrorista. Enquanto a origem dos quadrinhos mostra Tony sendo capturado por comunistas, é interessante a adaptação trazer Stark para um contexto do nosso século, o combate ao terror.

Após criar a armadura para escapar do covil dos terroristas. Tony volta para os EUA onde seu guarda-costas Happy Hogan (Jon Favreau) e sua assistente pessoal Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) aguardam pelo seu retorno. Porém, pegando todos de surpresa, inclusive seu sócio Obadiah Stane (Jeff Bridges), Tony declara o fim da produção bélica das indústrias Stark. Interessante observar uma analogia aos debates políticos da época como a saída das tropas americanas do oriente médio e o fim da guerra do terror.

Enquanto Tony, ainda abalado pelo período de cativeiro, começa a aprimorar sua máquina com intuito de combater a guerra. Obdaiah tenta recriar a tecnologia de Stark e lucrar com os custos bélicos. Então descobrimos que todo esse tempo, Obdaiah tramava com o grupo terrorista que sequestrou os Stark. Assim como nos anos 80, era o próprio exército que militarizou os terroristas. Sendo a guerra uma fonte de negócios e lucros (curiosamente, também observamos esse debate em Star Wars: Os Último Jedi, lançado no fim do ano passado).

Mesmo não tendo ninguém, é justamente na sua assistente Pepper que Tony Stark encontrará ajuda para solucionar e colocar fim à trama de Obdaiah e recuperar o comando da empresa. O terceiro ato traz um embate entre Tony já com a sua versão final da armadura do Homem de Ferro e Stane com a primeira armadura, agora atualizada, sendo o Monge de Ferro. A resolução da luta é até simples. Mas funciona dentro do contexto do filme de origem.

O filme encerra-se com uma coletiva de empresa onde mesmo questionando o nome Homem de Ferro, Stark se vê entre seu dever e o ego inflado, que é cutucado quando ele sutilmente percebe que os jornalistas não estão considerando ele como um super-herói como ele imagina. Ele revela ser o Homem de Ferro, uma virada de roteiro que quebra com o paradigma de identidade secreta que permeia grande parte dos filmes de super-herói lançados até então.

Nas cenas pós-créditos, Tony Stark recebe a visita de Nick Fury (Samuel L. Jackson) que conversa com ele sobre a Iniciativa Vingadores. Uma surpresa especial preparada por Kevin Feige e o estúdio para iniciar a construção desse universo compartilhado.


Uma obra mais autoral e que ditaria o tom da próxima década. Homem de Ferro mostra que após anos de produções com roteiros ditos realísticos (X-Men, Homem-Aranha, Batman Begins), a indústria do cinema já estava pronto para heróis com roupas chamativas e que estavam dispostos a ser aquilo que eles nasceram para ser: Super-heróis.

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