O que é que acontece juventude?
No último domingo, estive no DNJ em Campina do Monte Alegre.
Evento maravilhoso e abençoado como sempre, porém questões foram levantadas por
algumas pessoas na coordenação que ecoaram nos dias subsequentes. Essas mesmas questões
foram levantadas por amigos do movimento jovem que participo na igreja e também
por um amigo que participa de uma comunidade de vida. Afinal, o que está
acontecendo juventude?
Vou voltar dez anos no tempo: DNJ de Angatuba em 2009. Meu
grupo lotou um ônibus para o encontro, além de providenciarmos mais cinco
transportes para outros grupos da cidade. O tema era “Juventude marcha contra a
violência”, então fizemos uma marcha pela cidade que se entregou totalmente
para nos acolher (todas as casas do trajeto tinha um altar na frente como se
estivessem nos dando boas vindas e nos abençoando).
Ao olhar ao redor, o destaque era as diversas camisetas das
dezenas de grupos de jovens que existiam. Ficávamos de olho em cada uma para
ler suas siglas e significados. Ao chegar no ginásio, os grupos estendiam suas
bandeiras que era o símbolo máximo de sua identidade. Haviam os gritos de
guerra de cada grupo, outro símbolo forte que hoje é algo que somente grupos
com resquícios de uma identidade PJ ainda tem.
Chegamos a primeira questão que quero levantar: Hoje não
temos isso, temos uma hegemonia na diocese de movimentos juvenis que carecem de
identidade própria e de jovens que nem ao menos se sentem pertencentes à uma
paróquia ou a uma identidade. O que houve? O que mudou?
Segunda questão: Nesse terceiro ano que cuido da comunicação
do Setor Juventude e do DNJ, analiso que foi o ano mais difícil em termos de
reunir pessoas realmente dispostas a trabalhar pela juventude (e sou uma
delas), o que está acontecendo? Por que isso se repete nos grupos de jovens
aqui? E nos movimentos jovens? Por que está havendo tantos jovens dispostos a
viver uma experiência com Cristo como os proporcionados pelo Emaús, EJC, ou os
Retiros de Carnavais e Acampamentos Jovens, mas não estamos tendo jovens
dispostos a assumir um verdadeiro compromisso com Cristo e a igreja?
A Culpa é do Jovem?
Minha resposta: NÃO!!!
Meu argumento: Vou lhes contar uma outra história:
No final de 2012, o movimento jovem que eu participava
decidiu que não realizaria mais o retiro de Carnaval, o motivo alegado por um
dos coordenadores: “O jovem não quer mais nada com nada, esperam que tudo caia
do céu, desisto da juventude”.
O ano virou, começamos 2013, acabou que eu saí daquele
movimento jovem. Estava num período que também não estava disposto à assumir um
compromisso com a igreja. Eis que numa missa, faltando 30 dias para o Carnaval,
um jovem de um bairro distante de onde moro, veio atrás de mim e de um amigo
para conversar no final da missa.
Esse jovem era coordenador do grupo desse bairro, que fica
na periferia da cidade. Ele veio pedir para que fizéssemos o retiro com o
seguinte argumento: “Se vocês não fizerem, todos esses jovens ao invés de
estarem na igreja, irão para as ruas durante o Carnaval.”
Após essa apelação, decidimos fazer o retiro, mesmo sem uma
coordenação, sem um padre apoiando, sem local. Mas como diz uma história que
ouvi essa semana: Deus tem que fazer a parte dele. E Deus fez. Ele fez com que
os jovens trabalhassem. Unimos quarenta jovens e saímos pela cidade para
realizar esse retiro, pedindo doação, prenda, vendendo salgado de
porta-em-porta.
O Retiro de Carnaval de 2013 aconteceu. Foi feito exatamente
por esses jovens que foram acusados que não queriam nada com nada e esperavam
que tudo caísse do Céu.
Então volto para os dias de hoje. Será que as lideranças de
nossa juventude não estão acomodadas e não querem assumir compromissos? Ou
nossos jovens estão com hábitos ruins de terem vivência de juventude da qual não
assume compromisso na igreja.
Instagramável
Há ministério de música que os integrantes só participam da
missa quando é dia de escala deles. Argumentam que a faculdade lhes tira o
tempo, mas o essencial da fé Cristã não é se alimentar da Eucaristia todos os
domingos?
Tem movimentos de juventude focados em trazer jovens para
si, porém esses movimentos estão sendo multi-paroquiais e acabam tirando da
juventude essa identidade paroquial que faz com que ele pertença a uma
comunidade eclesial assim como os Apóstolos nos ensinaram. Quantas vezes eu
ouvi de jovem aqui de Tatuí “eu sou católico, mas não pertenço a nenhuma
paróquia”. Como faz quando você é um líder de juventude mas se nega a ter uma
pastor para te pastorear?
Observei que há um jovem num desses movimentos aqui na minha
igreja que toda vez que tem terço, vígilia, missa, ele está lá. Quando precisam
de leitor, ele se oferece com toda a humildade para servir. Mas nunca o chamam
num sábado à noite para sair comer uma pizza. Como faz quando você como jovem
só é buscado para oferecer seu serviço como um operário, mas não é lhe dado
espaço para que seja protagonista dentro da igreja? Apesar que por favor, não
confundam ser protagonista com querer se aparecer, porque tem jovem também que
abraça compromisso em tudo que é pastoral da sua igreja e não faz nada bem
feito ou faz coisa que não é seu dom fazer apenas para que esteja em evidência.
A conclusão que chego é que o jovem está muito
instagramável. Vai a igreja para buscar foto e compartilhar essa experiência no
instagram (justo eu vou criticar, aquele que tomou a dianteira e criou
instagram para grupo quando ninguém tinha). Mas hoje temos uma geração muito
Colo de Deus, onde gritam em plenos pulmões YESHUA, RUAH, TOTUS TUUS, ABBA PAI
transformando esses termos em hashtags mas nem ao menos saber o que significam.
Cito Colo de Deus porque ele está em alta no momento por justamente ser
concebido para caber nas plataformas como Instagram, YouTube e Spotify, sem um
conteúdo mais aprofundado de fé ou que consiga romper as barreiras do
smartphone. Cadê os jovens que escutavam Rosa de Saron, The Flanders, Oficina
G3, Missionário Shalom, Adoração e Vida, Dunga, Eliana Ribeiro, Celina Borges, Dunga,
Padre Zeca, Anjos de Resgate, Padre Marcelo Rossi, Vida Reluz (fui longe agora),
entre outros?
Estou querendo resolver o mundo nesse texto? Não. Ele tem um
valor acadêmico relevante para ser um artigo? Muito menos. Pode ser uma
crônica? Sim. Mas considero mais uma lamentação ou um textão muito grande para
ser de facebook.
Quero somente levantar questões. E depositar minha fé que
Deus mostre os caminhos para que essa juventude reaja e seja protagonista assim
como o Papa quer. Quero revolução, quero força de vontade, quero identidade.
Quero que o jovem volte a ser aquele jovem ávido por Ser ao invés de Ter.
Aquele jovem da carta da calças jeans.
Sugestão de leitura:
Muito importante para meu processo formativo para a liderança de grupo de jovens: Santos de Calça Jeans e Nasci Pra Dar Certo. Ambos os livros de Adriano Golçalves, missionário da Canção Nova que por anos esteve à frente do Revolução de Jesus.
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