Pra não dizer que não postei sobre flores


Sempre aprendi nesse mundo de ciências humanas a escutar os dois lados de cada ideia. As duas versões da história e entender acima de tudo a História como ferramenta que olha para o passado para construir o nosso futuro.

Assisti ontem a noite a entrevista de Jair Bolsonaro no Roda Viva, pois há muito escuto falarem dele e assisti ao debate para poder dar o beneficio de saber mais sobre o candidato. Lembrem-se, sou formado em comunicação e meu estágio foi como cinegrafista de reportagens.

Assisti ao debate. O jornalista Leonencio Nossa do jornal o Estado de S. Paulo questionou sobre a abertura dos documentos da ditadura militar. Segue um trecho da resposta do Bolsonaro:

“Não tem mais arquivo nenhum. Esquece isso aí, é daqui pra frente [...] desconheço esses arquivos, os papeis com certeza já sumiram.”

O mediador do debate, Ricardo Lessa logo disse:

“Candidato, o Herzog foi prestar depoimento desarmado por livre e espontânea vontade e não voltou (...)”

Então veio a resposta do candidato Bolsonaro:

“Suspeita-se dizer ter sido morto sob tortura tendo em vista ter sido enforcado em 1,20m de altura aproximadamente, mas é possível uma pessoa cometer o suicídio em 1,20m de altura [aqui o candidato relata a história de um traficante de crianças que cometeu suicídio dessa  forma como argumento].”

Então ele muda de assunto e começa a falar da Dilma, Lula e Fidel Castro e encerra o debate sobre a morte do Herzog da seguinte forma:

“O Brasil tem pressa de saber sobre o dinheiro que foi desviado para Cuba e Angola, as demais coisas (ditadura) aconteceu, lamentavelmente aconteceu.”

Eu assisti até o fim a entrevista. Ele disse vários absurdos (falou que não existe divida histórica da escravidão, falar que mortalidade infantil reduz custo para a saúde, que o homem do campo tem que sair do campo para arranjar emprego, que 150 projetos é igual 500, entre outras coisas).

Não vou entrar em debate sobre eles, só vou me atentar aqui na declaração sobre Herzog. Um candidato à presidência dizer que Vladimir Herzog se matou e que “infelizmente aconteceu”. Isso é o maior absurdo de toda a entrevista.

Vladimir Herzog era diretor de telejornalismo da TV Cultura e professor de jornalismo na USP. Após acusações pelo fato dele ser do Partido Comunista, ele se apresentou de forma voluntária no DOI-CODI para prestar esclarecimento.

Vladimir Herzog foi torturado e morto pelo exército que simulou a morte dele forjando a cena de um suposto suicídio. O Tribunal Internacional já conseguiu provar que a morte foi devido à tortura. A certidão de óbito já foi alterada. Os jornalistas que tiraram essa foto já disseram que a cena foi armada.

Jair Bolsonaro diz que Herzog cometeu suicídio, pois “suicídio acontece”.

Jair Bolsonaro não é o meu candidato.


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